18 maio, 2005

Menina de Preto
"tic... tac..."
Olha bem para ti. Ao som dessa constante e infernal melodia sentes o tempo passar. Sentada, olhando a janela. Mas que esperas ver tu? Vês os dias correrem, o mundo girar, a vida passar. Há muito que baixaste os braços e perdeste as forças para contrariar o ciclo. Observas de longe, no teu canto, temendo o toque. Será que ainda me consegues descrever as tuas emoções? Essa tua aparente serenidade. Falsa. Nunca conquistaste a calma que procuravas, a paz de alma que te falta. Correste quilómetros, galgaste a largos passos o teu caminho, sempre na tua passada acelerada. Fugias de quê afinal? Os demónios que te assombram e perseguem não vão desaparecer. Mas escolheste enfrentá-los? Olhas de lado a quem te acena da rua. Ou finges que não vês. É sempre mais fácil fingir que não nos apercebemos do que se passa à nossa volta. Faz muito tempo que esses lábios não desenham um sorriso. Que esse corpo sente o calor de um abraço. Será possível que o teu coração tenha gelado? Armas-te em forte. Gritas de peito cheio ao mundo que não precisas de ninguém. Mas és tu que choras ao fim do dia, todas as noites. És frágil. Não podes fazer tudo sozinha. E quantas vezes to tentei mostrar? Ninguem é perfeito. Porque carregas a culpa dos pecados de outros? Pelos teus olhos pode-se ler uma história de dor e mágoa. E ódio. Que guardas lá no fundo. E o teu corpo carrega as marcas dos castigos que te impuseste. Dos sonos mal dormidos. Sei que perdeste a vontade. Que arrastas a tua existência sem qualquer esperança. Mas eu vou continuar. Todos os dias passarei à tua janela e acenarei. Alimentando a tola expectativa que um dia me respondas e, porque não, me convides a subir...

Tirei este texto do excelente blog do meu amigo Love is Suicide, link aqui.

16 maio, 2005

Sinto-me só, muito só, particularmente só. Já ouvi isto em algum lado, sim. Já não estou habituada a estar sozinha, sim.
Mas a minha solidão não se prende apenas em solidão emocional. Sinto falta de ter alguém com quem conversar sem nenhum motivo; sinto falta de conversar durante um noite inteira (claro que também sinto falta de carinho - who doesn't? - mas isso não é o fundamental). O fundamental é estar aqui aquela pessoa que lê os meus pensamentos, que consegue perceber o que digo quando as frases nem fazem sentido, com quem estou uma noite inteira calada e parece que falamos dos nossos segredos mais íntímos, que me deixa tão tranquila a ponto de adormecer.
Sinto que estraguei tudo. E que agora nada vai voltar a ser como antes.

13 maio, 2005

Enquanto vou percorrendo aquele caminho de morte e de saudade vou sentido paz interior... Uma enorme paz. Porquê? Não sei. Sempre a senti neste lugar, desde que me recordo.
Vou observando as lápides. "Com muitas saudades do filho, marido, neto..."
Não consigo deixar de pensar que a minha não dirá nada disso, que não deixarei saudades.
Estarei morta, então que diferença me fará? A diferença faz-me agora. Quando sinto que o amor e amizade são temporários, transitórios e que sofro com as separações; e que vou ficar sozinha na fase antecedente à minha morte.
E naquele sítio, senti-me observada. Até no cemitério, os vivos me incomodam.

11 maio, 2005

Odeio ir a ginásios. Porquê? Porque têm espelhos de parede a parede e assim posso apreciar toda a minha fealdade em todo o seu explendor. O meu corpo voltou ao seu ciclo, o que significa que falhei. De novo. Como sempre.

07 maio, 2005

Gostava de saber porque continuo a preocupar-me com pessoas que não merecem.
Quero ter vontade de acordar.
Quero dormir para sempre.
Quero fechar os olhos e quando os abrir, estares aqui ao meu lado.
(Por tu entenda-se, o meu príncipe encantado, amor platónico, pessoa que nunca vi e que nem sei se existe e que supostamente me fará feliz.)
Quero reaprender a sorrir.
Quero não esperar por ti uma noite inteira, enquanto estupidamente me alcoolizo e no fim não apareceres.
Quero não passar os dias e as noites a pensar como estarás, enquanto tu te divertes com uma qualquer.
(Por tu entenda-se, aquele pelo qual o meu coração bate mais, mesmo sem ter nenhum motivo para tal.)
Quero voltar a gostar do sol.
Quero não ser usada como se fosse um objecto que se usa e se deita fora porque se achou melhor ou porque não realiza todas as funções que dizia na embalagem.
(Mais conhecido por: cigarro, guardanapo, jornal, palito, preservativo, etc.)
Quero que a vida não seja um fardo mas um prazer. Há quanto tempo não sinto isso?
Quero que me digam a verdade porque é o que eu faço.
Quero que as pessoas que gosto estejam perto de mim.
Quero encontrar a felicidade aqui e não ter de correr meio mundo para a encontrar.
Entretanto vou esperando que as coisas se recomponham (se é que algum dia se vão recompor).
Às vezes desespero (quem não desespera?). Às vezes sinto que nasci no mundo errado. Que faço tudo mal.
A vida é difícil e eu estou demasiado cansada de lutar contra dragões (não era suposto o meu príncipe fazê-lo por mim?).

06 maio, 2005

Poema

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Por Álvaro de Campos

(Como génio que ele é, eu tinha de me identificar com este homem - não que eu seja génio, atenção, mas gostava de ser - este é o heterónimo com que me identifico mais e na minha opinião é o mais rico em conteúdo e em linguagem. Espero que gostem.)
Não é tão triste quando estamos num momento de aflição e se acaba o papel higiénico?
Às vezes sinto-me assim. Só que o papel higiénico é uma pessoa (metaforicamente falando), a aflição é a mesma. Que falta que certas pessoas me fazem.

05 maio, 2005

Acho que ver pessoas que eu gosto a sofrer, me custa ainda mais que eu a sofrer (e em relação ao meu sofrimento acho que estamos todos de acordo).
Pessoas que passam por coisas diferentes, pessoas que passam pelo mesmo que eu. Algumas deixam-me ajuda-las, outras não. É pena, eu considero-me boa amiga, boa confidente, bom ombro. Talvez um ombro que se apaixonou pelo seu ombro e vice-versa. Mas de que é que interessa se ao fim de uns dias tudo voltou ao mesmo? Ou pior... O ombro já não estava lá. Só eu, diante do espelho. Enorme e disforme, diante do espelho. Com vontade de pegar na minha boca e puxar metade para cada lado até rasgar, até sangrar, até ficar definitivamente desfigurada. As vezes que já tentei fazer isto das mais variadas formas. Uma forma de dizer: "Não gostem de mim. Eu não mereço o vosso amor, amizade e preocupação."
Talvez seja reflexo da minha insanidade mental. Talvez seja o meu reflexo.
As pessoas vão e vêm. No final resto eu. A minha cara enjoativa e irritante diante do espelho. Talvez seja por isso que me maquilho. Para ter um ar mais apresentável.
Hoje reparei que estou a ficar velha. Tenho um ar velho e cansado. Não me admira. Estou cansada de viver. Sinto o peso do mundo em cima de mim.
Que falta que certas pessoas me fazem. Pessoas que foram por algum tempo mas ainda não voltaram (voltarão?), pessoas que foram por tempo indeterminado e o mais certo é não voltarem. Foram. Partiram. Embarcaram. Serei um ponto de chegada? A mim parece-me que sou mais um ponto de transbordo. As pessoas só ficam de passagem, mesmo que algumas fiquem por mais tempo.
Comentário fatalista do dia: Que fazer? A vida é assim... Temos de nos acostumar... São cruzes que temos de carregar. (Às vezes consigo acreditar nisto...)

03 maio, 2005

Sinto a tua falta. Basta a tua ausencia para tudo correr mal. Tenho saudades das nossas conversas na net até às quatro da manhã. Tenho saudades de me fazeres rir independemente da circunstância. Tenho saudades... Tenho saudades da tua presença se fazer sentir como quem diz "Estou aqui, por favor não me abandones!".
Às vezes penso em nós e não sei porquê, vejo-me sempre com um cigarro ou uma maçã. Eu visto de branco (porque será?) mas tu vestes de preto à beira mar num dia de sol (coisa mais pirosa mas a imaginação tem destas coisas) e,por estranho que pareça, não tenho óculos de sol . Conversamos. Não sei o que dizemos mas falas no teu brasileiro impecável. A certa altura abraças-me. Fico atrapalhada como sempre. Porque é que as pessoas me abraçam sempre sem avisar? Acabo por te abraçar. Falamos de algo mau porque temos ambos um ar triste. E pronto. Terminou o meu momento de imaginação.
Às vezes questiono-me como tens tanta importância para mim. Como és capaz de me dar vontade de viver só por existires, só por um dia te ver.
Não sei quando vais ler isto mas de qualquer forma, obrigado por tudo, Adriano.