05 maio, 2005

Acho que ver pessoas que eu gosto a sofrer, me custa ainda mais que eu a sofrer (e em relação ao meu sofrimento acho que estamos todos de acordo).
Pessoas que passam por coisas diferentes, pessoas que passam pelo mesmo que eu. Algumas deixam-me ajuda-las, outras não. É pena, eu considero-me boa amiga, boa confidente, bom ombro. Talvez um ombro que se apaixonou pelo seu ombro e vice-versa. Mas de que é que interessa se ao fim de uns dias tudo voltou ao mesmo? Ou pior... O ombro já não estava lá. Só eu, diante do espelho. Enorme e disforme, diante do espelho. Com vontade de pegar na minha boca e puxar metade para cada lado até rasgar, até sangrar, até ficar definitivamente desfigurada. As vezes que já tentei fazer isto das mais variadas formas. Uma forma de dizer: "Não gostem de mim. Eu não mereço o vosso amor, amizade e preocupação."
Talvez seja reflexo da minha insanidade mental. Talvez seja o meu reflexo.
As pessoas vão e vêm. No final resto eu. A minha cara enjoativa e irritante diante do espelho. Talvez seja por isso que me maquilho. Para ter um ar mais apresentável.
Hoje reparei que estou a ficar velha. Tenho um ar velho e cansado. Não me admira. Estou cansada de viver. Sinto o peso do mundo em cima de mim.
Que falta que certas pessoas me fazem. Pessoas que foram por algum tempo mas ainda não voltaram (voltarão?), pessoas que foram por tempo indeterminado e o mais certo é não voltarem. Foram. Partiram. Embarcaram. Serei um ponto de chegada? A mim parece-me que sou mais um ponto de transbordo. As pessoas só ficam de passagem, mesmo que algumas fiquem por mais tempo.
Comentário fatalista do dia: Que fazer? A vida é assim... Temos de nos acostumar... São cruzes que temos de carregar. (Às vezes consigo acreditar nisto...)

3 Sangra (m):

Blogger Nilaratowen sangrou...

Ninguem fika para sempre, mas tambem ninguem é um objectivo... todos percorremos estradas da vida, e por muita companhia que tenhamos num momento o nosso passo sempre será diferente e por isso sempre estaremos sozinhos. A solidão não é uma ilusão nem um castigo mas sim um forte embate na realidade.

6/5/05 08:34  
Anonymous Anónimo sangrou...

O que leva duas pessoas a escolherem caminhos diferentes depois de uma longa caminhada juntas? E o que leva uma delas a abandonar a outra?

Até que ponto somos os passos que damos e os passos do outro?

"Sinto o peso do mundo em cima de mim." -> Porque desempenhas com tanto empenho esse papel? Assumes uma responsabilidade tão grande pelos teus actos, penso: serás assim uma pessoa tão culpada por tudo?

Mais uma vez venho aqui reconhecer que escreves muitissimo bem... e gosto da maneira como argumentas. Bom, o melhor é eu estar caladinho antes que me desanques outra vez... :P :)

6/5/05 15:08  
Blogger Lara sangrou...

«"Sinto o peso do mundo em cima de mim." -> Porque desempenhas com tanto empenho esse papel? Assumes uma responsabilidade tão grande pelos teus actos, penso: serás assim uma pessoa tão culpada por tudo?»
Eu considero que sou culpada por tudo, sim. E sinto o peso do mundo nos meus ombros. Sinto-me um atlas, se é que tal comparação se pode fazer. Custa-me levantar de manhã e encarar o mundo porque sei que vou ter mais uma palha nas costas "deste camelo". Posso considerar-me vítima, mas não somos todos vítimas de algo?

6/5/05 22:13  

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