06 maio, 2005

Poema

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas).

Por Álvaro de Campos

(Como génio que ele é, eu tinha de me identificar com este homem - não que eu seja génio, atenção, mas gostava de ser - este é o heterónimo com que me identifico mais e na minha opinião é o mais rico em conteúdo e em linguagem. Espero que gostem.)

1 Sangra (m):

Anonymous Anónimo sangrou...

Bem escolhido!
Já leste alguma coisa de José Luís Peixoto? :)

6/5/05 14:36  

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