07 junho, 2005

(in)quietação

Sempre haverá uma palavra engasgada na garganta, uma lágrima por rolar numa despedida qualquer, lindas canções excluídas dos repertórios. Acho que o som contido é o bastante para que se que arrisque a entoar agudos inalcançáveis e que se insista naquilo que pode ser possível com certo esforço...
Reticências, essas nos salvam do limite do que se quer dizer, assim como um quadro sem margens ou cálculos sem resultantes. Há um conforto no inacabado, como se assim prolongássemos à eternidades, as efemeridades munidas do desejo de resistirem. Como um entardecer púrpura indica com constelações lineares reticentes, que a noite é apenas uma pausa dos versos pintados nas abóbadas celestiais.
Há muitos que acreditam no subentendido, e de fato há várias sinais codificados em silêncio, mas não há uma palavra contida que não se inflame inquietada por vibrar no pleno entendimento externo. Nunca diremos o bastante, e se por ventura julgarmos os excessos da expressão, certamente discursaremos o motivo do tanto dizer. Não ouço redundâncias nas repetições, uma palavra nunca é igual a outra, e se por equívoco se enfadonham dos mesmos sons, é porque não entendem que a palavra busca no tempo e no espaço, a sua forma, o seu contexto, o momento de finalmente fazerem sentido. E para isso, as palavras se jogam exaustivamente às meras vibrações sensitivas, muitas se afogam no silêncio, algumas se alojam em compreensões e poucas envocam a sua resposta. Uma palavra dita num determinado instante tem apenas uma resposta, mas se ela vier num momento diferente, essa buscará outra réplica, mesmo que a intenção seja a mesma de outrora, pois palavra de coração cheio é abafada e palavra de coração vazio é oca.
Assim, nada mais heróica é palavra que não teme o suicídio silencioso. Nada mais comovente palavra equivocada num parto prematuro. Nada mais vivo que a palavra expulsa dos lábios trêmulos.
Hoje quis dizer tudo quando te disse que não tinha mais o que dizer...

Trina

Amei este texto. Retirado deste blog.