"tic... tac..."
Olha bem para ti. Ao som dessa constante e infernal melodia sentes o tempo passar. Sentada, olhando a janela. Mas que esperas ver tu? Vês os dias correrem, o mundo girar, a vida passar. Há muito que baixaste os braços e perdeste as forças para contrariar o ciclo. Observas de longe, no teu canto, temendo o toque. Será que ainda me consegues descrever as tuas emoções? Essa tua aparente serenidade. Falsa. Nunca conquistaste a calma que procuravas, a paz de alma que te falta. Correste quilómetros, galgaste a largos passos o teu caminho, sempre na tua passada acelerada. Fugias de quê afinal? Os demónios que te assombram e perseguem não vão desaparecer. Mas escolheste enfrentá-los? Olhas de lado a quem te acena da rua. Ou finges que não vês. É sempre mais fácil fingir que não nos apercebemos do que se passa à nossa volta. Faz muito tempo que esses lábios não desenham um sorriso. Que esse corpo sente o calor de um abraço. Será possível que o teu coração tenha gelado? Armas-te em forte. Gritas de peito cheio ao mundo que não precisas de ninguém. Mas és tu que choras ao fim do dia, todas as noites. És frágil. Não podes fazer tudo sozinha. E quantas vezes to tentei mostrar? Ninguem é perfeito. Porque carregas a culpa dos pecados de outros? Pelos teus olhos pode-se ler uma história de dor e mágoa. E ódio. Que guardas lá no fundo. E o teu corpo carrega as marcas dos castigos que te impuseste. Dos sonos mal dormidos. Sei que perdeste a vontade. Que arrastas a tua existência sem qualquer esperança. Mas eu vou continuar. Todos os dias passarei à tua janela e acenarei. Alimentando a tola expectativa que um dia me respondas e, porque não, me convides a subir...
Tirei este texto do excelente blog do meu amigo Love is Suicide, link aqui.